quarta-feira, 22 de abril de 2009

Nós

Erguemos as bandeiras bem alto,
Gritamos de pulmões cheios,
Falamos todas as línguas,
Conhecemos todas as culturas.

Passamos, estreitos, a ideia do sonho;
Tornámo-la real,
Chora-mos por ela,
Violámo-nos por ela;

Sofremos… quantas vezes sofremos!

Ressuscitamos Deus,
Devolvemos os santos aos altares,
Absorvemos as palavras dos homens
como as dos santos.


Tomámo-los por Deuses,
Enfim, tornámo-nos, nós próprios, Deuses;
Quietos ao seu próprio olhar;


Quantas vezes, mas quantas vezes!

Nós, Deuses, descemos do nosso
Altar e beijámos a primeira moça suja que passava.

Lavámos-lhe a face com as suas próprias lágrimas.

Agora, lavam a nossa própria face com as lágrimas de outros.

Apesar de tudo, não somos loucos!

Não, loucos não somos;

Somos sóbrios… demasiado sóbrios,
Tão sóbrios, que poderiam construir
uma nova Babel sobre as nossas cabeças;

Poder-nos-iam dar a honra
de reis da festa e, mesmo assim,
tomarem-nos por palhaços;

Mas a mudança chove todos os dias
E não encontramos Deus, nem na Cruz
nem nos Céus;

Apenas um sabor amargo,
E um mundo imenso lá fora…

Nenhum comentário: