quinta-feira, 14 de julho de 2011

Disse o polícia, comendo a ameixa...

Disse o polícia, comendo a ameixa:
« Não existe, querida, isso a que chamas amor,
Existem sensações e químicos, sobretudo químicos…
De vez em quando resolvem-se conjugar e aí temos,
Nada de especial, o amor…

Lembraste de como o amaste, e de como
Três vezes juraste por todo o sagrado?
Pois te digo que as mesmas juras farás,
Vezes sem conta as farás e assim, bela como és,
Amarás cada vez que o decidires;

Sabes como és violenta quando te apaixonas,
Pois também o sei… e de quão rápido os esqueces
Como se de um sonho acordada não passara,
Pois podes sonhar essa farsa cada vez que assim o desejares,

E assim o amor voltará a surgir,
Tal como o mágico vai tirando os coelhinhos da cartola,
Radiantes os químicos voltarão a fluir
Como quem faz uma bela sopa…»

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ou outros ou nada

Ou outros ou nada,
Porque já não servimos
Demasiado cremos e ouvimos
O excesso torna a vista condenada;

Venha algo mais puro, ou a morte,
Aos nossos pensamentos poluídos
Uma voz que acabe com o ruído
Um timão que nos indique o norte,

A essa abundância imaginada,
Corte a sorte o fio do Ser,
Não sabemos o sofrimento e o prazer
Não sabemos viver nem morrer.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Por vezes a terra treme

Canto, canto, os desafortunados,
Os pobres de espírito, os fúteis,
Os medrosos, os covardes,
Os mentirosos, os preguiçosos,
Os melados, os maricas,
Os poetas, fugitivos,
Os parolos, os cativos,
Os doentes, os falhados;

Enquanto os que assim canto,
Existem e são vivos,
O mundo segue o seu castigo
Revestido de cores bonitas;

Enquanto os milhares se banham
Numa orgia de conceitos
Desfaço-me em frases feitas
E melodias decalcadas,

Mas por vezes a terra treme...