domingo, 25 de dezembro de 2011

Partem comboios

Partem comboios ao amanhecer,
Partem vazios de esperança,
Saem pela cidade no silêncio
Abrupto da ignorância,

Vão, vão e em vão, comboios apinhados,
Repletos de gente muda e amedrontada,
Esmagam nos seus trilhos os inaptos
Torturados no instinto da manada,

Partem, desde quando, até quando?
Quem os ordena? Com que valor?
Quem nos vale no deserto povoado?
Talvez, a sorte, talvez o amor?

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Homenagem a João Peste

Lembras-te João,
Da folie dos oitenta e das festas
De cores garridas, as mulheres
Peludas e os óculos démodés?
Os toques desgarrados na
Guitarra que parecia abrir
Caminho, as noites de loucura
E embriaguez – o pleno, o
Esquecimento?
Era nesses momentos que
vinhas a ti, nu, original num
templo descarnado onde sacrificavas
toda uma vida de conforto e mediocridade
por um momento de verdade?
Então o mundo abria-se sem par,
Cheio de possibilidades e sensações,
Uma só descoberta e adormecias.
Mas de manhã, quando acordavas,
Era tudo mentira, e só a
Ressaca descomunal te fazia voltar
ao pesadelo, ou o deserto e a
falta de perspectivas e um
mar de incompreensão e intolerância.
Sim, talvez fosse essa a verdade, mas
O sonho segue vivo.