segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Canto às Urtigas

A José Saramago,


Há algo no mar, que ao longo se avizinha,
Uma sombra, corsário, Adamastor,

Pudera uma canção,
Um simples canto, um reflexo,
Uma prece oca, uma ilusão,
Uma triste história pachorrenta
Uma mentira, cançoneta em falsete
Despertar a nossa vida;

Pudera que assim hoje,
Tudo tão leve, nos leve ao fundo,
Nos faça amar o irreal
Na Babilónia de papel
Qu nos esmaga como chumbo;

Pudera que uma vez,
Qual ténue abrigo em alto mar
Nos traga de novo a nós
O mundo perdido ou nunca achado
A procura?

sábado, 2 de outubro de 2010

Adeus!

Ainda ontem vira
mais uma cidade erguida do alto,
montanhas de aço e vidro
prostradas ao céu.

Mais uma cidade, caída aos meus pés,
Ah! Janeiro, Fevereiro, Outubro e Dezembro,
Visitara-vos como se estivésseis já acabados,
Qual Muralha de Constantinopla feita em fanicos pelos turcos,
Ah, vida, civilização, eterno adeus, eterno recomeço,

Adeus ao homens chegados a casa cansados!
Adeus às mulheres, renitentes no sexo depois de uma ida ao cabeleireiro
(e por vezes aborrecidas no meio da violência)!
Adeus às armas, coroa de louros de heróis longínquos!
Adeus Guerra Clássica!
Adeus Soldado Desconhecido!
Adeus namoricos de janela, tantas vezes defraudados
e aniquilados pelo sol de todos os dias (porque não vos refugiasteis
então na lua - o sol dos lobos?)!
Adeus inflações e deflações!
Adeus crianças à beira do abismo!
Adeus poetas sedentos de abismo!
Adeus à velha guarda e aos seus sábios conselhos!
Adeus histórias por contar (porque vos garanto, doravante
nenhuma história ficará por contar e nenhum nobre génio por reconhecer)!
Adeus à pátria, e que alegrias e tristezas inspiraste no coração dos poetas!
Fique esta porta bem selada, não vá alguém se lembrar de entrar!
Adeus! Para sempre! Adeus!