segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Se enquanto jovem tiver pachorra, querida,
Para aguentar tudo o que se exige de mim:
Dinheiro, saúde, bons intestinos e procriação,
Eis-me já velho, uma puta barata, vendida por tuta e meia.

E quando os meus braços flácidos já só penderem
Para as verdades comezinhas da vida,
Com o teu olhar quieto e inocente
Leva-me de novo pelos ares, mesmo que puta,

Mesmo que sujo como as pedras da calçada
Porque não é para menos. A vida suja tudo,
Mesmo os amores perfeitos se nos dermos ao
Trabalho de os esmuiçar, se não cortarmos a peça

No inicio e esperarmos pelo descerrar do pano.
Senão, vê como se passeiam esses homens lisos, de cartão,
Esses terríveis bondosos e medianamente inteligentes
Essas todas no limbo da prostituição,

A cadência terrível das horas de ansiedade que
Não deixam ver as coisas, os que viajam mas não
Cheiram e não sentem. Tudo igual a tudo.

A torpeza asiática dos que se violam
A crónica infinita do mundo

E a vida que nunca nos permitirá ver como tudo mudou.