quinta-feira, 17 de julho de 2008

V - Chão Maldito

Saio,
Diluído na noite de cinza vulcânica
As motos
correm sem saber porquê

Vento que passas e trazes
a fragância de outras épocas


Apenas os nossos corpos unidos---
hora aflita de amantes casuais
A natureza abrupta
separa os corpos e devolve-os
num atávico egoísmo.

Afinal, ainda vivo
E ainda não é maldito
o chão que me sustém.

IV-Prólogo

Cai a cinza lá do alto
No meu cabelo negro latino
Gente aflita guincha
Augurios do velho Mundo.

III - Ressaca

Tens a face lavada das sombras morais
que invadem a tua existência.

Olha para a nossa vida e vê como
nos roubam esses momentos lívidos de felicidade pagã,

Vê como sempre somos nós
O último reduto da conservação animal.

Espraia-te em imagens
e decompõe a existência preversa
torna-a ainda mais preversa negando-a a todo o momento
e sente em ti esse ódio aos primevos legistas.

Eu, o expoente sarcástico dessa repressora cultura,
Eu, revoltado com o cortejo fútil da modernidade,

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Deves contar aos teus filhos sobre
esse tempo em que as palavras perderam o sentido
e recordá-lo apenas como uma imagem esparsa daquilo que vivemos.

Talvez assim saibamos que o sentido está no silêncio,
no absurdo absoluto da ordem das coisas

Mas o lugar de cada um é o caos
e nada temos por seguro excepto aquilo
que nos fere os sentidos,
a aparência e o fino estalo racional cairá
em cada momento que a sociedade vacilar.

Então nada restará
a não ser a ressaca moral de um dia ter acreditado.