quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Da memória

Lembro-me de um pequeno mago
(talvez fosse grande, lá para os lados do Lilliput?)
Bom, o que interessa é que tinha boa memória.
Memorizava tudo o que ouvia. À primeira.
Fixava cada pormenor do que escutava,
Avesso a abstracções, claro está.

O pequeno grande é dos bons! Não faz juízos de valor.
Faz bem em não arriscar. Já demasiados arriscaram
Demasiado, e por isso mesmo demasiados não recordam o seu apelido.
Joguemos pelo seguro, porque pelo menos, enfim, estamos seguros.

A um desses santos deu-lhe para o marquetingue.
Sacana! A inveja que lhe tinha cada vez que me
Arreganhava aquele sorriso!

Outro, porventura mais arrojado,
Deu-lhe para ser feliz, e em todo o
Quarteirão nem uma só alma o censurou.

Enfim, sabe Deus a quantos mais não dará
Para certas e determinadas coisas.

Ah! Se bem me lembro, falávamos da memória.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Despia-se no templo da Mona, onde o altar é um espelho

E as vestes puídas tombavam-lhe dos ombros,
Ao fundo, bem ao fundo, um povo cigano
Eternamente amaldiçoado pelo pecado original
Vagueia, ainda hoje, alimentando-se do roubo
E da caridade dos felizes para com os seus filhos
Deliberadamente estropiados;

Alimentou-se do sangue dos pobres e dos nobres,
Lembrando que um dia na história foram o mesmo;

Contemplou a vontade, tão mísera e impotente,
Submetida a uma outra … incógnita, irredutível;

Mas quando à noite recolhe ao seu leito
Beija, submissa, os pés do seu marido
Alguém a prevenira para o abismo que se abre,
Quiçá, em cada milénio, ou cada vez que o
Equilíbrio cósmico é perturbado…