Visto o casaco puído do tempo,
Clochard autorizado,
Rugas não tão ansiadas
Cravam-me a testa,
Cicatrizes de combate.
As calças apertadas atolam-me
a natureza;
Os sapatos preparados
Para uma boa refeição.
Em vão tudo desfila diante dos meus olhos:
Máscaras de cores garridas,
Anões e bobos de corte,
Carpideiras contratadas,
Cuspidores de fogo
transportados em traineiras;
Tudo tão irreal
À realidade tão palpável
do meu estômago colado às costas.
Marujos mareados a mil marés
Convidam ao embarque a terra nova
O capitão está louco,
O mapa a estibordo,
A carga no mar flutua…
Chega-se a hora de jantar,
Não chega que tenhas bom estômago
mas também bons dentes,
Pois o pão da emente de hoje é duro;
E que tenhas coragem,
Pois também é bolorento,
E audácia,
Pois terás de o roubar,
E força,
Pois terás de correr com ele.
Já não se preocupam com o que não te dão,
Deves antes preocupar-te com o que ainda te podem tirar;
O capitão está louco,
O barco à deriva,
A carga a estibordo.
Visto-me de nudez vestido
Louco sedento,
Aterroriza-me o descanso.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
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