I
Hoje celebro:
A tristeza e a alegria,
A paz e a guerra,
O mar e a terra,
Fulgor e melancolia;
Celebro:
O meu sangue envenenado,
A beleza que passa,
O grotesco e a graça,
O viver enganado;
Celebro o penitente
Com o mesmo enfado
Do engalanado;
Celebro assim,
De forma indiferente,
Na mesma canção
Apenas porque, enfim,
Seja cão ou gente,
Pisa o mesmo chão.
II
Tem tanta razão quem me ama
Como o que me cospe e difama,
Quer me exalte e enobreça
Quer me insulte e esqueça.
III
[taberneiro]
Avaros passamos,
Em cada momento,
Nada que criamos
Dissolve o tormento,
De ter de viver
Amar e sofrer,
Será a nossa sorte
Na vida e na morte,
[todos]
Não há hemisfério
Nem mar nem terra
Que saiba o mistério
Que a vida encerra,
[1ºbêbado]
Ergam bem a taça,
Senhores e senhoras,
Ventura e desgraça,
Boas e más horas;
[2ºbêbado]
Um copo de vinho
Fresquinho a jorrar,
Coroa sozinho
Um Deus no altar;
[prostituta]
Grego ou romano
Vilão ou paisano,
Honesto ou malsão
Pagão ou cristão,
[todos]
Bebam amigos
O néctar da vida
Os sonhos esquecidos
A infância perdida
[taberneiro]
Bebam, que se faça
Ouvir tilintar
O cristal tão frágil
Quase a estilhaçar;
[estudante]
Tudo é tão fútil,
Nem quero pensar
Que aquilo que é útil
É para largar;
[assalariado]
Se a própria existência
Inútil por si,
É pura demência
Para quem não ri;
[recém-chegado]
Por isso eu bebo
Para meu opróbrio
É maior o medo
Para quem está sóbrio
[todos]
Bebam companheiros
Enquanto haverá
Vinho carrascão
Que a vida nos dá;
[poeta]
Triste? Triste é respirar o mesmo ar
E não ver do mundo outra beleza
Que comer, beber, procriar,
Não ver o doce tom da natureza.
quarta-feira, 19 de agosto de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário