sábado, 26 de junho de 2010

Vê linda como partem os comboios,
Vê que com absortos ocupantes,
Talvez a esperança lhes traga silêncio,
Vê a paisagem que muda
E que também nós mudamos,
Só o silêncio em mim não colhe
Nem as flores que plantei em tuas mãos florescem
Pois seja... Basta tolhê-las da terra e já não crescem,
E também já não semeio margaridas
Porque apenas colho cravos e rosas.
Não fites mais os trilhos linda,
Nem os comboios que passam,
São apenas sombras, os que os ocupam,
E nós apenas espectros desconhecidos.

sábado, 12 de junho de 2010

Expressão

A um olhar atento e gélido
respondo-te com um sorriso,
Poderia ser de outra forma
Para nós comediantes?

Um abraço que afaga e que bate,
Uma boca que beija e que insulta
correndo pelos cantos a um torso
não bronzeado
Perdendo-se num jogo de espaldas
finamente torneado,

Para ti natureza viva minha
de tantos de tantos e tontos
que te servem para quê?
Para que sacrificas a um Deus
desconhecido quando o Deus da
tua nascença é mais ancestral...
Para quê? Só tu bastarias
sem a nossa natureza
masculina e opressora
impostora quantas vezes
colocar-te-ia eu ou
um outro qualquer um
véu de noiva moribunda
ou uma casa com jardim
ou um passeio de domingo
à tarde ou sabe-se lá mais
o quê ou nada
Tu uma possibilidade de vida
entre tantas outras
um dia recordarás estes momentos
de doce loucura como isso: loucura,
Dirás que isso é loucura e que
a loucura é má
E pedirás perdão tantas vezes
por aquilo que foste e tentarás
aniquilar todo o resto de ti
que ainda se alimenta desse passado
agora obscuro
E então o teu olhar gélido e apaixonado
tornar-se-á vago e pequenino
como a canseira dos dias.