terça-feira, 24 de novembro de 2009

Se vês que a salvação está no teu corpo,
Aí só vejo morte e desperdício
Sem desprezar da vida o alegre vício
De crer que o ver é o seu mais nobre sopro

Mas crer no ter é cair no amorfo
Espaço de ilusão cujo resquício
As mãos levam em último suplício
No púrpura fatal do inerte corpo

E tu que já em plena luz do dia
Clamavas por um verso mais contente
Saberás que o tempo é pura fantasia

Saltando pardacento o meio-dia
Caindo em versos ternos inocentes
Eterna triste e doce companhia

sábado, 21 de novembro de 2009

Não a ti mas a uma sombra apenas vejo
Essa sombra que ainda tanto me atormenta
Que torna vã a vida tão violenta
O espectáculo de horrores passa em cortejo

Corpos corpos sem nome eu só desejo
Nomes nomes sem corpo o ser sustenta
Ao som de aras pútridas aguenta
Apenas o teu nome e o teu beijo

Mas ó mulher a vida é aparência
E o dia que promete é só fugaz
E o amor uma espécie de indecência

Que fulge distraído essa demência
De ser vilão e herói e ser capaz
Ou mísero pedinte da inclemência

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Flor

Chuva, como quem caia em memória,
Flor, se pensar que eras flor,
Se apenas um momento de vitória,
Foras minha e não o contrário de quem espera
Flor desavinda…

Chão, faltara apenas o chão,
Quando construía, construía a quimera
Desejara Babeis e Gomorras sobre a terra
Quando tudo inexorável ruía,

Mas flor e chão e chuva e sol
Só por ti foras sol e flor e chuva
Foras, simplesmente,
Não fosse a noite tão escura.