quarta-feira, 1 de julho de 2009

I

Sôfrego, o lar,
Eterno vazio,
A Alma afasta-se
Para onde já não há tempo.

Se será, assim, viver,
Onde já não mora o tempo,
Até onde se verga
A ideia inflexível?

Não! Foge já, mas espera
O tempo
Esparso em parcas memórias

II

Acorda, é luz
E suave a aurora
E o dia promete
Mais do que devia…

III
Só hoje é dia e chorei,
As almas que nunca existiram,
As imensas páginas por escrever,
Os beijos que me recusaram.

IV

Porque foges, se ninguém te segue?
Porque gritas, se ninguém te ouve?
Ainda antes de seres pó,
Antes ainda que as tuas entranhas
entrem em autólise,

Serás pó, quantas vezes…
Quantas vezes deves morrer?

Saberás apenas
Que a verdadeira morte
é essa a que te impões,
De que não gritas,
Passas calado.

Aparte isso,
Nada é diferente
do que seria
se gritasses
à exaustão,

Ninguém sofre
com o que dizes,
Ninguém muda,
porque o queres

Habitua-te a essa condição
Tal como a frase
se habitua à palavra.

REPITO: (mais uma vez):
Se o teu coração está em silêncio,
Deixa-o estar em silêncio,
Sufoca, ainda mais,
O apelo surdo da verdade.